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O que as exploradoras tem em comum com biotechs e startups? E como fugir das empresas picaretas…

Comentar um pouco sobre as exploradoras (mining explorers), e suas similaridades com biotechs ou startups de tecnologias. Com um olhar especial sobre o que são e como identificar as empresas picaretas. Esse artigo é aplicável a todas as empresas cuja atividade central é exploração, seja sobre urânio, seja aplicável a outros minérios.

As exploradoras são aquelas empresas que além de não produzir, sequer possuem um projeto com reservas economicamente viáveis determinadas, mas é onde toda a mineração inicia: encontrar essas reservas. Usualmente esses lugares possuem direito de exploração de um determinado local, que há algum indício de presença de minério (exploração histórica, alguns buracos mostrando boa graduação do minério de interesse, proximidade a outras reservas relevantes, estudos geomagnéticos e topográficos que mostra a região ser promissora, etc), mas está muito, muito distante de produzir. Quando falamos distante de produzir estamos falando em décadas, isso se produzir. Mas bem, exploração é um negócio fascinante. Com algumas centenas de milhares de dólares, uma campanha de perfuração bem sucedida pode fazer descobertas de centenas de milhões de dólares. Nesse aspecto não é muito diferente de uma startup ou de uma biotech.

Em uma biotech tem-se, por exemplo, uma molécula, que se mostrar promissora em estudos clínicos, pode gerar um medicamento altamente lucrativo. Ou então, se uma fintech que desenvolve uma solução inovadora pode modificar mercados. Exploradoras, assim como a maioria das biotechs, fintechs, etc, não geram lucro, apenas queimam caixa. E não há nenhuma garantia de sucesso em seus investimentos; um estudo clínico pode ser negativo, assim como uma campanha de perfuração ser mal sucedida. E as estatísticas estão contra o investidor e a favor da banca. Apenas um fração das anomalias geológicas vão se tornar uma mina; já ouvi números indo de 1:3.000 a 1:10.000. Não é muito diferente com candidatos a medicamentos ou soluções de startups: a quantidade de minério pode ser insuficiente para ser viável economicamente, o CAPEX e/ou o OPEX muito alto, desafios geológicos, metalurgia ineficiente, dificuldade de se conseguir permits, são vários os motivos para nunca produzir.

Assim como nesses outros exemplos, uma exploradora precisa principalmente ter um ótimo capital humano/intelectual: geólogos brilhantes, bom management, equipe comprometida. O negócio depende muito mais de pessoas do que de processos. Assim como startups em geral, exploradoras queimam caixa e falham porque não tem as pessoas certas cuidando do negócio. E por muitas vezes possuem um management com seus próprios interesses e não alinhados com os do acionistas.

Como essas empresas conseguem recursos? Basicamente seduzem investidores com sua narrativa. Em exploradoras de capital aberto é comum terem anualmente uma rodada de investimento com os chamados ‘private placements’, diluindo os acionistas. Por outro lado, é cômodo fazer parte do management de sua própria empresa e ir sangrando o caixa da mesma para pagar seus salários. Ou seja, mesmo que nunca produza, o retorno para o manager é garantido. E quando acaba o recurso, basta emitir mais ações.

É importante detectar quais são as empresas sérias e as empresas picaretas, com promoters em vez de bons managers. É um pouco difícil, mas há alguns indícios e seguem algumas dicas:

  • Tente conhecer o management. São pessoas com expertise para levar o projeto adiante, com um bom tracking record, ou parecem ser aventureiros no setor?
  • Vá nos balanços e veja como está sendo usado o dinheiro? Está sendo utilizado majoritariamente para ação de exploração/desenvolvimento, ou estão sendo usados para pagar as contas de management (salários), pseudo-consultorias e publicidade?
  • O que as campanhas de perfuração nos dizem? Estão realmente desenvolvendo o projeto, identificando novas áreas de mineralização? Estão apresentados os dados de todos os buracos perfurados ou seletivamente mostram apenas os mais atrativos?
  • São campanhas reais ou para news release. Por exemplo, se um buraco mostra boa mineralização, se quiser gerar uma boa notícia é só perfurar perto. Ou está expandindo outras áreas de forma a aumentar a área da descoberta?
  • Skin in the game: qual é a participação do management na empresa? E como se deu isso, por ações e warranties como compensação, ou está comprando no mercado e a que preço?

Bem, exploradoras são difíceis de analisar, mas um começo é tentar separar as que tem apenas uma narrativa daquelas que tem bons fundamentos. Exploradoras bem escolhidas podem se mostrar 10, 20, 50-baggers, com uma convexidade interessante nos investimentos, e tentar achar a próxima mina não difere muito de tentar descobrir a próxima tech que vai dar muito retorno.

Para exemplificar, olhem abaixo o gráfico da Nexgen, após a descoberta da reserva Arrow em 2014. Nesse meio tempo a Nexgen não ganhou dinheiro: nunca produziu (está longe disso, os mais otimistas falam em 2030) e diluiu o seu acionista diversas vezes. Mas a descoberta agregou muito valor mesmo em bear market, em um momento logo após Fukushima, onde o urânio era o grande patinho feio da história.

Bons investimentos

Por: Maicon – twitter: @maicon_br83

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